sexta-feira, 29 de maio de 2009

Following behavior



Há alguns dias atrás, na aula de comportamento, o Professor abordou o assunto "Desenvolvimento e Evolução do Cuidado Parental". Como qualquer outra vertente do comportamento, esta me proporcionou uma admiração imensa. Parte por ser uma relação intima entre duas coisas importante na vida de qualquer mamífero (animais que admiro de mais), cuidado e maternidade; e parte por caracterizar um instinto natural para vários seres vivos, mesmo gerando alguns riscos para a mãe e filhote.
Uma amiga, segura dos seus conhecimentos, apresentou neste mesmo dia, um trabalho sobre o cuidado parental de Baleias Jubartes. E este trabalho, juntamente com a aula ilustrativa, me inspirou, e resolvi escrever um pouco sobre este incrível comportamento.

O cuidado parental é comum dentre, principalmente, as aves e os mamíferos. Algumas aves realizam o cuidado da prole via pai e mãe, e se dedicam a uma proteção reforçada daquele(s) indivíduo que carrega seus genes. Em diversas, porém, apenas um dos pais realizam este tipo de resguardo, dependendo do outro para vigiar, alimentar e proteger o ninho. Pinguins são algumas das aves que realizam o cuidado da prole, sendo que as fêmeas viajam por semanas em busca de comida, enquanto os machos esquentam e protegem o ovo posto na última estação reprodutiva. Muitas vezes, mães verdadeiramente oportunistas, depositam seus ovos em ninhos alheios, garantindo um cuidado por parte de pais de outra espécie.


Um exemplo conhecido e amplamente estudado, é do Cuco, uma ave que ovoposita em ninhos de outros pássaros (que promovem o cuidado parental) visando que esses acolham seu filhote como sendo um dos seus. A cria do cuco se desenvolve juntamente com os filhotes do pássaro, e aos poucos domina o ninho, garantindo mais alimento e intenso cuidado. O poder de persuasão do cuco filhote é muito maior que dos donos do "quarto", e isto é notado pelo canto do primeiro ser 4 vezes mais potente que dos pequeninos. Intrigante este comportamento materno, não?


Outras ações ímpares dentro do reino animal podem ser vistas sob o comportamento parental. Algumas Baratas d'água, por exemplo, realizam um intenso cuidado parental. As fêmeas depositam seus ovos na vegetação, e machos, posteriormente, recobrem os ovos por um longo período de tempo, evitando o possível ressecamento e predação das pequeninas baratas d'água. Outra espécie, contudo, realiza uma outra estratégia. As mães depositam os ovos no dorso de machos ou mesmo de fêmeas. Isso, provavelmente, dá aos filhotes uma maior quantidade de oxigênio (pois os indivíduos que os carregam promovem um fluxo de água (oxigenada) com o movimento dos músculos do ventre) e uma proteção contra intemperes e predadores.


Quanto (finalmente) às baleias Jubarte, essas magníficas criaturas, realizam um conspícuo comportamento de cuidado parental. Uma pesquisa recente mostra que os filhotes permanecem com as mães durante um grande período de tempo, garantindo a eles uma proteção tamanho família, e esse comportamento é denominado "following behavior". Porém, ontogenéticamente, os filhotes desenvolvem comportamentos específicos, e, acompanhando o seu desenvolvimento, as mães vão se distanciando do filhote, dando-lhe mais liberdade e criando um menor vínculo mãe-filho.


Existe uma gama de exemplos e peculiaridades quanto a esse comportamento, descritos em inúmeros trabalhos científicos e em bons livros de etologia e comportamento animal. Compreender os laços entre filhotes e pais nos ajuda a entender mais a fundo as nossas relações paternas - tanto afetivas quanto agonísticas.


Fernando

domingo, 3 de maio de 2009

"Animal Behavior"

Para quem nunca deu uma olhadinha no "Animal Behavior" do consagrado John Alcock, não sabe o que esta perdendo. Bom, pra dar um gostinho, aqui vai alguns dos exemplos que se pode ler em sua obra magnífica.

Ele, primeiramente, descreve o comportamento sob uma perspectiva evolutiva, assumindo um carater darwiniano à sua obra. Divide os assuntos a serem desvendados em temas conhecidos ou curiosos, garantindo a organização (sistematização se preferirem) e prendendo a atenção do leitor com seus particulares comentários.

Inúmeros estudos de caso são ilustrados pelo livro, esclarecendo ainda mais as nossas dúvidas sobre comunicação animal, cuidado parental, comportamento reprodutivo, e até mesmo a evolução e desenvolvimento do comportamento humano.


Um dos estudos citados pelo livro, é a fantástica teoria dos jogos, em que as consequências do comportamento de um indivíduo é dependente da escolha comportamental de outro. Como no caso de alguns pinguins. Algumas espécies dessas aves não voadoras, no momento em que irão pular na água para forragear, esperam até que algum indivíduo da população pule antecipadamente, aumentando a probabilidade de sobrevivência daquele que escolheu não ser o primeiro a pular. Isso porque, ao pularem na água precipitadamente, há grandes chances de haver algum predador a espreita, e os primeiros e últimos, provavelmente, serão as vítimas capturadas por focas ou orcas.






Outros grandes exemplos encontrados na obra, são aqueles intitulados quebra-cabeças darwinianos. As borboletas monarcas são amplamente estudadas sobre essa perspectiva. Essas coloridas lepdópteras são migrantes de grau máximo quanto à resistência e habilidade. Mas não é este fato que as fazem especiais. Seria o de que estes insetos possuem um padrão de coloração das asas que indica impalatabilidade, ou seja, aqueles predadores que as comem sentirão um sabor enausiante, e, possivelmente, passarão a não comer presas com estes padrões. Porém, como Darwin descreveu, a seleção natural atua no nível de indivíduo, e não de população ou qualquer outro (como espécie ou gênero). Portanto, ao comer aquela borboleta, o predador a matará ou lhe arrancará as asas, diminuindo drasticamente o valor adaptativo da presa. Mas, então, por que esta característica permaneceu entre as monarcas? E é ai que se destaca o termo quebra-cabeça darwiniano. Isso, pois, a coloração críptica não aumenta o valor adaptativo do indivíduo, mas sim da espécie como um todo.




Alcock destacou muito bem o caso das abelhas, com suas danças que indicam direção e distância entre a colmeia e o recurso alimentar, suas divisões em castas, e a evolução de seus comportamentos em teorias extremamente interessantes. Também não hesitou esforços para garantir um bom entendimento das possíveis causas do comportamento de infanticídio entre macacos, leões e ratos.


Portanto, sem dúvida alguma, este livro concentra o que há de melhor em trabalhos e pesquisas científicas relacionados ao comportamento animal, colocando-os juntamente a uma linguagem agradável e de fácil compreensão. Apenas alguns problemas são salientes quanto à aquisição e leitura da obra. O "Animal Behavior", como já visto no título, é um livro escrito em inglês e ainda não foi traduzido à nossa língua, e por esse motivo seu preço nas livrarias ainda é alto e requer importação (o que encaresse ainda mais). Mas são encontrados nas melhores bibliotecas universitárias.


Bibliografia citada:
Animal Behavior, John Alcock.


Vídeos recomendados em "Comportamento na net":

"Evel Mother pinguin" e "Infanticídio em leões"

Fernando